Sobre a morte de Osama

           Não, não acredito na morte do homem. Desde o primeiro momento duvidei, e minha esposa é testemunha, apesar de impedida nos moldes do artigo 405, parágrafo 2º, inciso I, do Código de Processo Civil.

Era uma bela manha de outono (não me lembro o dia exatamente, acho que 02/05/11, uma segunda feira), acordo às 07h05 e ligo a TV no jornal matinal da rede Globo. Renato Machado estava eufórico, apesar de sua aparência muxoxa típica de apresentador da Globo, noticiando o evento que seria comentado por toda a semana.

Os americanos invadiram a casa do terrorista em outro país, executaram-no e depois atiraram o corpo no mar.

- Duvido – disse eu, sem pestanejar. Sem corpo, sem morte. Simples assim. Mais uma invencionice norte americana que o mundo todo acreditou, menos eu. Ou já se esqueceu das armas de destruição em massa no Iraque, meu amor?

 Minha mulher disse que eu, como sempre, estava criando absurdidades. Com o decorrer da semana contradições e suspeitas foram surgindo a ponto de deixar até a ONU com dúvidas. Como sempre, eu estava certo na relação conjugal.

Fato é que se Osama está de fato morto, ninguém sabe, a não ser aqueles presentes na Sala de Controle da Casa Branca. Eu acredito que não. Acredito que nada mais foi do que outro capítulo forjado da história mundial pelos EUA. Até que provas concretas infirmem esta teoria.

Mas para que motivo? Penso que para encerar em grande estilo um dos capítulos mais sangrentos da história desse país – um período quase que 50% mais longo que o seu envolvimento nas Duas Guerras Mundiais. De quebra, com um desfecho digno de um filme de ação de Hollywood.

Apesar dos quase dez anos de ocupação no Afeganistão, o Talibã – deposto do governo quando do início das atividades bélicas em 2001 – ainda mantém atividade guerrilheira permanente em quase todo o país. Mais da metade do território está sob risco de ataque, com mais de um terço ainda sob o controle do Talibã[1].

Ou seja, os EUA e a OTAN estão com sérios problemas do ponto de vista militar. Desde o Vietnã, o maior vexame bélico e moral da terra do tio Sam. Mas os norte americanos não podiam se dar ao luxo de saírem derrotados do Afeganistão, como no país asiático. Uma saída honrosa haveria de ser encontrada, como de fato foi, em uma mansão luxuosa no nordeste do Paquistão, ainda que isso custasse a frágil relação diplomática com este país.

Aliás, o que não seria tão ruim, já que a tara de alguns militares americanos esquizofrênicos de alta patente é invadir o Paquistão para estuprar as muçulmanas sunitas e, de quebra, acabar com o programa nuclear paquistanês.

O Afeganistão, em uma análise sociológica leviana, transformou-se numa verdadeira colônia sem independência política ou econômica, mas muito pelo contrário, totalmente dependente de fomento estrangeiro, tanto político quanto financeiro – daí porque a ocupação militar pode acabar, mas não a ocupação imperialista. Os militares em breve sairão, mas os americanos ainda permanecerão por um longo período.

Entretanto, não obstante ter semeado na socapa as sementes imperialistas que germinarão a médio e longo prazo, penso que, por outro lado, Obama escancarou a derrocada do projeto de ‘guerra ao terror’ de Bush filho perante a comunidade internacional. E se fortaleceu, mormente para as eleições presidenciais vindouras, paradoxalmente com um mise-em-scène à la Bush.

Ao invés de prender e julgar – a atitude mais esperada de um democrata de Harvard – a escolha foi matar e sumir com o corpo – atitude típica de um vaqueiro republicano do Texas. Obama, segundo as palavras do jornalista Fernando de Barros e Silva, inflamou o patriotismo e tocou o coração conservador da América do Norte.

Mas, ao invés de dialogar com os muçulmanos, criando um amplo debate sobre as responsabilidades que Osama atraiu para si no atentado de 11 de setembro (se é que foi ele mesmo o mentor), inclusive dando o exemplo dos valores que jurou proteger, Obama e os norte americanos escolheram excitar os ânimos dos árabes, que já santificam o mujahidin morto e jogado ao mar, reivindicando vingança.

Outro dado interessante para reflexão diz respeito aos locais onde há maior concentração de militância extremista: sintomaticamente naqueles ocupados pelos norte americanos, Iraque e Afeganistão, de modo que posso concluir que sangue gera sangue, violência gera violência.

Só espero que o encontro de Bin Laden no Paquistão não seja motivo para saciar a lascívia de alguns militares estadunidenses, com uma nova intervenção bélica imperialista. Barbas de molho: as mulheres paquistanesas que se cuidem.


[1] Segundo o centro de estudos britânico International Council on Security and Development.

Um comentário:

  1. Quando a CIA assassinou Che Guevara, expuseram o corpo aos fotógrafos, tiraram impressões digitais etc. para provar que o defunto era o próprio. Já Osama, jogaram no mar (!).

    Osama, aliás, pela versão dada foi executado sem chance de defesa. "Matar e sumir com o corpo", realmente- isso é coisa de miliciano, de traficante, de bandido, enfim.

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