Sobre festas e 1º de Maio

Ribeirão Preto/SP, 01 de Maio de 2011, mais conhecido como Dia do Trabalho ou Trabalhador. No centro da cidade, as Centrais Sindicais CGTB, CUT, Força Sindical e CTB se unem para a promoção de uma festança que contou com muita música, sorteio de carros e discursos populistas.

Uma data que originalmente foi escolhida pela 2ª Internacional Socialista para convocar anualmente reivindicações dos proletários do mundo, quase que em cumprimento literal ao célebre convite de Marx e Engels expresso no clássico Manifest der Kommunistischen Partei, mais conhecido como Manifesto Comunista.

Uma data escolhida em homenagem aos fatídicos acontecimentos que se iniciaram nas ruas de Chicago, Estados Unidos, em 1886, que inclusive culminaram com a morte de alguns (Revolta de Haymarket, segundo a Wikipédia). E olha que os manifestantes só queriam jornada de trabalho de oito horas diárias.

Uma data no princípio utilizada para a mobilização da classe, mas hoje um dia de regozijo, descanso e alienação.

Talvez por força de atitudes pretensamente inocentes de alguns países, que transformaram referido dia em feriado (no Brasil, s.m.j., na era Vargas), fomentando sem querer (?) a imobilização popular. No fundo, uma aparente boa intenção: prestigiar a data e os acontecimentos históricos, mas com resultados diametralmente opostos: dia de descanso, e não de luta.

Uma sutil transformação que se iniciou na era Vargas, com o atrelamento dos sindicatos ao Estado. Até então um dia marcado por paralisações, piquetes, passeatas, atos de protesto. A partir de então comemorado com festas populares, música, distribuição de prêmios e discursos populistas.

Um desserviço que o Estado Novo prestou: abafou a memória das lutas. Mas sem dúvida uma grande jogada de Getúlio Vargas, que a partir de então se engrandeceu a ponto de ser tachado de Pai dos Pobres por alguns.

Ainda mais se considerarmos que as centrais sindicais açambarcaram essa data para promoverem seus dirigentes, ainda que para um minguado público que se arriscou sair de casa nesse domingo de outono. Obviamente por conta dos carros rifados, e não por qualquer outro motivo.

Como bem articulado em artigo hospedado no site Passa Palavra: o que fazem os sindicatos de hoje com seus mega-espetáculos, seus sorteios de carros e casas, suas comemorações anódinas, o que fazem eles além de seguir a mesma trilha de seus antecessores no esforço hercúleo de ressaltar o caráter festivo do Primeiro de Maio em detrimento de seu caráter combativo?

Em português claro, um dia utilizado para palanque eleitoral. Diria que utilizado para o descaramento absoluto de alguns.

Ao invés de discussões sobre a reforma trabalhista que está por vir, aulas de sofisma e retórica daqueles que se utilizaram do microfone. Não vou cometer o erro de nomear os oportunistas, mas quem é da cidade e possui um mínimo de discernimento sabe de quem estou falando.

Pelo mundo um primeiro de maio de protestos. Aqui mais um dia de festa. Bom, é preferível assistir o sagrado futebol de domingo no sofá da sala do que ir pra rua ver promoções pessoais. E com certeza o jogo do Corinthians estava mais interessante do que os discursos.

Falando em discursos, a julgar pelo arrazoado de August Spies, ao ser julgado pelo Judiciário burguês estadunidense quando dos distúrbios de primeiro de maio em Chicago, temos que ele está a se remoer de desgosto em seu túmulo:

"Se com o nosso enforcamento vocês pensam em destruir o movimento operário (...), se esta é sua opinião, enforquem-nos. Aqui terão apagado uma faísca, mas lá e acolá, atrás e na frente de vocês, em todas as partes, as chamas crescerão. É um fogo subterrâneo e vocês não poderão apagá-lo!"

Doce engano. Hoje não se trata mais de um dia de luto e de luta, como já disse o saudoso Perseu Abramo. Não no país do carnaval. Hoje é feriado, dia de descanso. Quando muito, é dia de festa, mas não de luta. Deveras. Hoje foi dia de ver o Corinthians ganhar do Palmeiras, nos pênaltis.

Um dia que (quero estar errado) não mais serve para despertar a consciência de classe através da história dos mártires de Chicago. Hoje é dia concorrer a prêmios. Espero que as ações militantes de organismos dedicados ao movimento operário prove o contrário, algo que não vi hoje.

Por fim, ‘Meu Maio’, do eterno Vladimir Maiakovski:

 A todos
Que saíram às ruas
De corpo-máquina cansado,
A todos
Que imploram feriado
Às costas que a terra extenua –
Primeiro de Maio!
Meu mundo, em primaveras
Derrete a neve com sol gaio
Sou operário –
Este é o meu maio!
Sou camponês – este é o meu mês
Sou Ferro –
Eis o maio que eu quero!
Sou terra –
O maio é minha era!

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