Sobre os transgênicos.

Penso que o problema dos transgênicos não está na modificação genética do substrato natural em si e seu impacto na saúde humana – o que também nos dá motivos para suspeitar deste procedimento, eis que não sabemos os efeitos colaterais da mutação genética no organismo humano a médio ou longo prazo – mas sim em outro aspecto ligado ao materialismo histórico.
Além dos derivativos, presentes no campo da mais moderna especulação, os transgênicos representam outro grande salto do Capital no atual sistema produtor de mercadorias. Vejamos a razão.
Penso que o problema principal dos transgênicos está umbilicalmente ligado à legislação que versa sobre a propriedade industrial, a por muitos chamada Lei de Patentes, que atende pelo nº 9.279/96, a qual permite a propriedade privada de microorganismos transgênicos, estes entendidos como organismos que expressem, mediante intervenção humana direta em sua composição genética, uma característica normalmente não alcançável pela espécie em condições naturais (inciso III e parágrafo único do artigo 18 da lei em comento).
É de se notar, por detrás da letra fria desta lei, a vontade do Capital em se apropriar (no sentido de tornar-se proprietário) de um bem que essencialmente é da natureza, embora modificado em sua genética.
Ai está o grande problema, a meu ver, dos transgênicos. A norma jurídica permite que uma empresa privada se aproprie de um vegetal qualquer, como, por exemplo, uma simples semente.
Pois bem, a formal propriedade industrial de um bem garante ao proprietário o recebimento dos chamados royalties, espécie de contraprestação que todos os que utilizam o produto são obrigados a pagar para o proprietário-criador.
Assim, sempre que alguém utilizar sementes de algum vegetal transmudado geneticamente, obrigatoriamente terá de arcar com os respectivos royalties.
Isso não seria problema se os organismos geneticamente modificados não fossem homicidas. Tentarei explicar o termo, aqui empregado de forma imprecisa: os transgênicos não convivem com uma variedade diferente do mesmo substrato. Não há como separar, por exemplo, soja transgênica de soja natural, ou milho transgênico de milho natural, mesmo observando um protocolo de precauções ecológicas. Dia mais dia menos, tudo restará transgênico, através da contaminação, o que fulminará com a biodiversidade. 
Mas como? Estamos no campo da reprodução dos vegetais. Aqui temos dois tipos de situação: plantas de fertilização com cruzamento entre plantas e outras que se auto-fertilizam de forma fechada. A maioria dos transgênicos possui fertilização aberta, com o pólen viajando a grandes distâncias, de modo que haverá uma contaminação generalizada e incontrolável de outras lavouras distantes, através da natural polinização.
O que era natural transformar-se-á em transgênico, através da contaminação. É a seleção natural de Darwin, eis que os transgênicos são mais resistentes, como a seguir se verá.
Assim, em um futuro não tão distante, a biodiversidade será reduzida, quiçá extinta, para algumas espécies de vegetais, ao passo que grandes empresas vão lucrar sem plantar um grão sequer. Aliás, já há rumores de que a multinacional Monsanto, só no Rio Grande do Sul, perceba algo em torno de 80 a 100 milhões de reais sem plantar um grão sequer.
Para exemplificar, vamos supor a seguinte situação: sou agricultor, estou no interior do país e produzo para o mercado local. Planto milho crioulo e, se houver contaminação transgênica de minha lavoura, através da polinização natural, no momento da comercialização de meu produto, se constatado ele transgênico, mesmo via contaminação, terei que arcar com os royalties. Com isso, terei que destinar parte do meu trabalho para a transnacional proprietária do transgênico, elevando os índices de exploração do atual sistema econômico. Mesmo distante da sede da Monsanto, serei explorado sem a existência de qualquer relação formal de trabalho.
Eis o grande salto do Capital: extrair mais valia sem qualquer relação formal de trabalho.
Mas, se não bastasse esse estrupício, ainda temos que conviver com o problema dos agrotóxicos, razão pela qual os transgênicos são homicidas.
A maioria esmagadora das mutações genéticas realizadas em laboratório destinaram-se e ainda destinam-se apenas para tornar o organismo transmudado mais tolerante ao uso de veneno – e está ai a razão do Brasil ser o maior consumidor de agrotóxico do mundo.
Exemplo clarividente desta constatação é o fato das quatro culturas que mais utilizam veneno serem as quatro áreas que possuem sementes transgênicas.
Desta feita, por serem os transgênicos mais resistentes, eles se sobressaem sobre os vegetais naturais, de modo que estes se ‘contaminam’, nos moldes da teoria de Darwin, reduzindo ou extinguindo as variedades do vegetal, vale dizer, reduzindo ou extinguindo a biodiversidade.
Entretanto, neste Brasil ainda existe uma vanguarda que bravamente resiste. 
A militância engajada conseguiu que o Estado brasileiro não autorizasse o plantio de arroz transgênico, eis que, por ser o arroz um produto consumido diariamente pela população, tal fato poderia potencializar eventual efeito colateral da mutação genética no organismo do consumidor. Este receio e a luta insistente da militância levaram o Estado a frustrar a intenção da multinacional Bayer em produzir, plantar e comercializar arroz transgênico.
Essa mesma militância engajada também impediu o plantio de eucalipto transgênico pela multinacional Aracruz, cuja contaminação poderia atravessar estados da federação. Com parecer científico acerca do alto grau de miscigenação que o transgênico poderia acarretar nesta cultura, através da extensa polinização (estima-se contaminação em um raio de 800 km), conseguiram barrar na CNTBio a autorização para o plantio do eucalipto transgênico.
Imagine você uma plantação de eucalipto transgênico no Rio Grande do Sul. Com a extensa polinização, em dois anos, os eucaliptos do Estado de São Paulo estariam contaminados. Sem dúvida um ataque fatal à biodiversidade.
Uma questão candente, que sofre com o embargo da mídia para conscientizar a sociedade.
Enfim, em poucas palavras, são minhas considerações acerca dos malefícios dos transgênicos.

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