Ensaios sobre o voto nulo.

Não vejo diferença alguma entre PT e PSDB. Melhor dizendo, não vejo diferença alguma entre Dilma e Serra. Se existir alguma diferença programática entre as duas siglas, esta é sutil como a brisa do mar, e situa-se no campo das perfumarias.
Aliás, se existir semelhança, esta é sociológica. O PT emana muito mais do povão, nasceu de mobilizações sociais de base e da camada emergente da população. Sua cor é o vermelho. O PSDB vem mais da classe média e média alta, do patronato e latifundiários. Sua cor é o azul. Fora isso, nada mais de diferente consigo encontrar.
Costumo julgar os partidos a partir das posições políticas das classes sociais que eles de fato representam. Por sua vez, estas classes sociais podem ser encontradas quando do financiamento das campanhas dos candidatos a cargo público destes partidos políticos.
Os financiadores da campanha de Dilma e de Serra são exatamente os mesmos.
Grandes instituições financeiras custeiam ambas as campanhas, do PT e do PSDB, sendo provável uma leve vantagem para os vermelhos, que detêm atualmente a máquina administrativa da União.
Nada mais obvio, porque os bancos possuem razões para confiar tanto num como noutro candidato, eis que obtiveram lucros hecatombes tanto na era FHC quanto na era Lula.
O mesmo vale para grandes empresas. Os grandes veículos de comunicação, incluindo TVs e jornais, tendem ao PSDB, mas o PT tem ao seu lado a Vale, Eike Batista e tantos outros empresários de renome.
Os financiadores são essencialmente os mesmos, portanto, os interesses a serem defendidos pelo governo federal, mormente quando alguma crise econômica aflorar, serão exatamente os mesmos.
Por isso não vejo diferença. Os interesses a serem defendidos tanto por Dilma ou por Serra, pelo PT ou pelo PSDB, serão os mesmos, os interesses daqueles que financiaram suas respectivas campanhas.
Mas as semelhanças não param por ai.
Ambos os partidos são essencialmente oligárquicos. Ambos se dizem estatizantes, embora tenham feito governos igualmente pragmáticos.
A política econômica aplicada por Palocci e Mantega foi precisamente aquela iniciada por Pedro Malan.
Não bastasse, ambas as siglas protagonizaram uma repulsiva regressão cultural e política ao bajularem caciques religiosos. O PT com relação a Sarney, Renan, Barbalho, Collor, Maluf e Jucá. O PSDB em relação à Kátia Abreu, ACM Neto, Bornhausen, Mão Santa e Agripino. Tudo isso misturado com Erenices e Paulos Pretos.
Ainda, ambos se recusam a acabar com os leilões de energia para novas termelétricas movidas a óleo diesel ou a carvão mineral, como lhes fora proposto por Marina Silva, na ‘Agenda por um Brasil Justo e Sustentável’.
Só não pontuo mais semelhanças para não tornar o texto longo.
Entre PT e PSDB, neste segundo turno, só há uma saída honrosa: a objeção de consciência.
Ou, como bem lembrou José Eli da Veiga, no dia 31 de outubro de 2010, ‘é melhor visitar alguma área de proteção ambiental do que ser constrangido a votar em branco ou nulo’.
Se as diretrizes de Dilma e Serra nada têm a ver com a sustentabilidade do processo de desenvolvimento – eis que crescimento econômico (pregado por ambos) não é sinônimo de desenvolvimento social – acho que uma área de proteção ambiental cairia muito bem nesse próximo domingo. Serra da Canastra, aqui vou eu.

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