Percebo dois modelos distintos de concepção sobre um mesmo partido político dito revolucionário, por seus próprios militantes, nos mesmos moldes das correntes de pensamento do Partido Comunista da Alemanha traçados por Lênin em seu clássico livro ‘Esquerdismo, doença infantil do comunismo’, ao comentar o folheto intitulado ‘Cisão no Partido Comunista da Alemanha (Liga dos Espartaquistas)’, que refletia parte de uma corrente do partido bolchevique local.
O primeiro modelo é o partido dos chefes, eufemisticamente chamados de ‘quadros’, que trata de dirigir a luta revolucionária de cima, do alto de seus empavonados pedestais, fazendo a interlocução com os órgãos superiores do próprio partido, aceitando os compromissos institucionais e se relacionando em nome do organismo com os ‘quadros’ estratégicos, hierarquicamente superiores ou figuras públicas com a finalidade de criar situações que permitam a esses mesmos chefes participar das reuniões de cúpula, ou, em uma situação hipotética, em um governo de coalizão, em cujas mãos esteja a ditadura.
O outro, é o partido das massas, mormente idealizado pelos militantes mais novatos e menos importantes, que espera o ascenso da luta revolucionária de baixo, que conhece e aplica nessa luta um único método que leva firmemente ao objetivo traçado, rejeitando todos os processos oportunistas, inclusive no próprio organismo, ao não reverenciar os mandos e desmandos de toda e qualquer direção, por colocar em prática a dialética e a democracia do centralismo democrático.
De um lado, a ditadura dos chefes; de outro, a ditadura da base. A mesma fisiologia verificada no PT de pouco tempo atrás.
Como disse e diria Lênin, todo bolchevique que tenha participado conscientemente do desenvolvimento do bolchevismo desde 1903, ou que o tenha observado de perto ou até mesmo estudado os fatos históricos, não poderá deixar de exclamar imediatamente, depois de haver percebido essa dicotomia: Que velharias conhecidas! Que infantilidades de esquerda!
Deveras. Esse divórcio entre "os chefes" e "a base” já fora explicada muitas vezes por Marx e Engels, de 1852 a 1892, usando o exemplo da Inglaterra. A conclusão, a meu ver, sempre foi o reconhecimento de uma pseudo aristocracia operária oportunista, semi pequeno burguesa, saída da própria base. Oportunistas tachadas por Lênin de social-chauvinistas que defendem os interesses de seu reduzido grupo da aristocracia operária, que mais se interessam em manter seus consideráveis cargos, seja no próprio organismo bolchevique, seja no aparato sindical ou na administração pública direta ou indireta, do que propriamente adotar medidas austeras para a derrubada incondicional da classe dominante.
Nas palavras de Lênin, em seu livro citado:
A vitória do proletariado revolucionário torna-se impossível sem a luta contra esse mal, sem o desmascaramento, a desmoralização e a expulsão dos chefes oportunistas social-traidores;
Corolário da existência desta dualidade verifica-se na endêmica ausência de novos militantes, que quando muito aproximam do partido – mormente nas eleições – mas não passam da situação de ‘aspirantes’, desligando-se por completo pouco tempo depois.
Outra evidência se verifica no desligamento repentino de ‘quadros’ de vanguarda, que ainda possuem resquícios de moral bolchevique.
Entretanto, não é o caso de se negar a necessidade do partido bolchevique, já que isso, com efeito, significaria o desarmamento do proletariado, a dispersão, a instabilidade, a incapacidade de centralização para a atuação de um modo organizado, defeitos que segundo Lênin são tipicamente pequeno-burgueses.
Ainda segundo Lênin, a luta revolucionária é uma luta tenaz, cruenta e incruenta, violenta e pacífica, militar e econômica, pedagógica e administrativa, contra as forças e as tradições da antiga sociedade.
A força do hábito de milhões e dezenas de milhões de homens é a força mais terrível. Sem partido férreo e temperado na luta, sem um partido que goze da confiança de tudo que exista de honrado dentro da classe, sem um partido que saiba tomar o pulso do estado de espírito das massas e influir nele é impossível levar a cabo com êxito essa luta.
Penso, como Trotsky, "que o marxismo encontrou sua expressão histórica no bolchevismo".
ResponderExcluirO problema do bolchevismo -nenhum método é infalível- é que dá margem a que "o partido substitua a massa, a comissão política substitua o partido e um único homem substitua a comissão política", como na célebre colocação de Trotsky no II Congresso do POSDR, o do racha.
Mas aí é centralismo burocrático, não democrático. Não é porque algo PODE degenerar que necessariamente IRÁ degenerar.