Ode ao golpe de estado

Diz a ciência militar que há três maneiras de se derrubar um governo pela força - a revolução, a guerra civil e o golpe de estado.

Esses três meios de deposição de governo diferem quanto à sua organização, quanto à quantidade de força empregada e quanto à sua aplicação prática, existindo em cada caso decisivas vantagens (ou desvantagens), dependendo da conjuntura política em que são empregados.

Entretanto, penso que o golpe de Estado possui maiores possibilidades de triunfar com menos desgaste.

Tanto a guerra civil quanto a revolução são demasiadamente dispendiosas. Na primeira, é necessária a organização de exércitos que se engajarão em lutas prolongadas; na outra, é necessário que grandes massas da população se lancem numa rebelião ou luta não organizada. Além do mais, tanto numa quanto noutra o ataque ao governo é indireto. Isto é, quem recebe os golpes são os organismos de proteção do governo e não os centros do poder político.

O golpe de estado, ao contrário, é um tentativa de mudança de governo pelo ataque súbito e agudo às máquinas adminsitrativas. Em condições favoráveis, um grupo relativamente reduzido de pessoas pode apoderar-se do Estado, sem grande custo.

Com efeito, esta possibilidade torna-se profundamente sedutora para minorias descontentes. Homens que seriam incapazes de levantar ou equipar exércitos para a guerra civil ou que não teriam a oportunidade de suscitar ou controlar as forças revolucionárias vêem no golpe de estado um instrumento capaz de modificar o mundo.

Isto tem se verificado inúmeras vezes. No século XVIII Napoleão chegou ao poder através de um golpe de estado, assim como Lênin, no século vinte.

Esses dois exemplos seriam por si sós suficientes para atestar a importância do golpe, mas em anos recentes a técnica tem evoluído enormemente. O golpe tornou-se um substituto da guerra. E mais, é utilizado como técnica solidária ou subsidiária, por exemplo, como precursor de uma guerra civil, como clímax de uma revolução vitoriosa, como tentativa de contra revolução, com oresultado de uma guerra contra o estrangeiro, como tentativa de atenuar a derrota na guerra, etc.

Um comentário:

  1. Eu penso que a diferença básica entre "golpe" e "revolução" (além do método, já exposto no texto) é o caráter de classe de quem sobe ao poder.

    Assim, a revolução muda o grupo dominante; já o golpe é a derrubada de uma parte do grupo dominante, por outro, mantendo-se o mesmo caráter de classe. É o que Paulo Dourado Gusmão diz, na "Introdução ao Estudo do Direito".

    Agora, concordo com o texto, quando diz que o golpe é menos dispendioso -vale dizer, menos "sangrento". É preciso ser eficiente (fazer mais por menos) em tudo na vida, inclusive na luta política.

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