Sobre os caças

Disse certa vez João Cabral de Melo Neto que um galo sozinho não tece uma manhã: ele precisará sempre de outros galos. Deveras. Eis a tônica da tendenciosa e premente escolha política do gabinete presidencial pelo caça francês Dassalt Rafale.

Explico. O que está em jogo, para o governo federal (que, através de sua autoridade máxima, o Presidente da República, é quem dará a palavra final), não é a superioridade técnica ou o baixo custo de aquisição e manutenção dos caças concorrentes, ou até mesmo a maior transferência de tecnologia (fatores levados em primordial consideração pelo relatório da FAB, instituição que de fato operará os novos brinquedos e que primou pela qualidade técnica e pelo custo benefício dos aparelhos a serem adquiridos, elegendo o Saab Gripen como o mais adequado para o Brasil). Ora, Juniti Saito, do alto de seu posto e de sua sapiência, pouco se importa para as relações exteriores, preocupando-se tão somente com a qualidade e baixo custo dos equipamentos a serem adquiridos para uso de um dos braços das Forças Armadas que comanda, a Aeronáutica.

O que de fato importa, na conjuntura internacional hodierna, para os líderes brasileiros, é a repercussão política da escolha, na medida em que a opção pelos franceses faz o Brasil alinhar-se de vez a um país desenvolvido estrategicamente situado – e muito bem situado – na União Européia, ganhando força política como emergente, fazendo frente à temida e destemida China e mudando a polaridade mundial atualmente ditada pelo império norte americano.

É onde se encaixa a citação do gajo João. São os galos se aliando para tecer uma nova manhã. E, para isto, vale inclusive adquirir aparelhos mais caros e tecnologicamente inferiores, contanto que se aumente a força política do adquirente.

O Planalto já sinalizou sua preferência pelos franceses, inclusive em momento inoportuno, recente situação que constrangeu alguns diplomatas. Aliás, todos os homens de Lula estão alinhavados nesta mesma trincheira: escolha política, e não técnica. Celso Amorim já confirmou isso para a Folha de São Paulo do dia 08/01/2010. Nelson Jobim, que também já havia sinalizado sua preferência pela République Française, tentará sair pela tangente, em grande estilo, elaborando seu próprio parecer. Todavia, por mais que Jobim tente dar ares de seriedade ou imparcialidade para a escolha do Brasil, o desfecho já é previsto.

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